António Maria da Silva era o Presidente do Ministério da Primeira República. Para "ilustrar" a "peça revisteira" Tiro ao Alvo, Joaquim Guerreiro fez um desenho animado que é considerado como o primeiro feito em Portugal: "O Pesadelo de António Maria". Os desenhos originais do autor foram preservados e, em base neles, artistas actuais reconstituiram em 2001 primorosamente o filme original, podendo actualmente ser apreciado, nomeadamente, a quem for ao CNBDI (Amadora) ver a exposição sobre BD - e não só! - e os 100 anos da República. A exposição é modesta e despretenciosa, iconográficamente já se viu melhor, tendo em conta a qualidade dos artistas cuja obra lá se encontra exposta. A permanente exibição deste filme é, em todo o caso, a jóia da coroa do evento.
Filme contemporâneo da medíocre série animada "Mutt and Jeff", "O Pesadelo de António Maria" não lhe fica à frente, mas merece ser apreciada por ser uma tentativa mesmo assim bem sucedida de animação pioneira entre nós! É claro, se era verdade que na altura Joaquim Guerreiro tactearia no escuro, perante uma tecnologia para a elaboração de desenho animado que lhe era provávelmente totalmente estranha, desenvolvida então pelas américas. o resultado não era muito melhor do que por lá se conseguia. Mesmo assim, por essas longínquas landes o acetato acabara de ser inventado, fazendo esta arte dar um salto, mas o autor luso ainda fazia todos os desenhos em papel branco, reproduzindo pacientemente tanto as personagens como os cenários, meticulosamente, nos 159 desenhos que constituem a matéria prima do filme. Isso é fácil de notar desenho a desenho, atentando-se nas "imperfeições" que se podem notar de imagem a imagem.
Sem uma indústria nem nada que se assemelhe por cá, que permitiria que a animação pudesse evoluir de um modo mais ou menos fluido, Joaquim Guerrerio fez tudo como lhe foi possivel, apenas munido de talento para desenhar, paciencia e uma boa intuição! O que já não é nada mau!
Provávelmente, se o filme for comparado com o que nessa altura era feita, o filme mesmo assim talvez seja algo fraquinho, mas compreensivelmente poder-se-á dizer que "para português, não está mau"! Num país sempre renitente em aceitar o moderno e o actual, esse "para português" é uma expressão que encoraja o "chico-espertismo", o "Quem não tem cão caça com gato", mas é este o país que temos, e inconformadamente podemos aceitar com algum entusiasmo algumas obras com valor feitas com esse nível de empenho. Como é o presente caso!
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