quarta-feira, 24 de novembro de 2010

DE VOLTA, AO ATAQUE!

hEHEHE! Não é um ataque violento, agressivo, e muito menos mortal! Simplesmente, após vicissitudes várias, eis-me de novo, combativo, a despontar as antenas, depois de furioso temporal! As vicissitudes são mais que variadas, por vezes tenho dúvidad, por vezes mesmo desanimo!

Quando é que retomo as publicações em álbum? Quando é que a Morgana, Homodonte e o Zu voltam a ver a luz do dia, com todos os álbuns esgotados? E o Dakar, que futuro lhe é reservado? E, já agora, o "Tobias" Bigom!?

Logo se vê, caso a caso! Um dia de cada vez, mesmo que o futuro não pareça auspicioso! Por ora, nada sei dizer, e se aprofundasse o tema, ficaria, mais que certamente, triste. Muito triste.

mantenho a edição dos Cadernos José Abrantes, já vou no número 4 e, mesmo assim, estou com, pelo menos, três números atrasados! Sobre isso, detalhadamente, em breve lançarei um poste!

Projectos e ideias não me faltam, como é natural, apenas me arrisco menos: para quê, afinal, avançar com aventuras de 46 páginas, se é coisa que me "rouba" cerca de oito meses, me estafa e depois não é editada?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cadernos José Abrantes N.º 2

Sai a 6 de Julho, ou seja, na próxima semana. Depois de umas hesitações quanto ao primeiro número, algumas melhorias foram impostas ao presente n. 2. O "prato forte" é a BD (inédita) "O Homem que não Parava de Rir!", de 15 páginas. Devido à extensão desta história, os Portfólios são mais curtos, mas mantén-se as histórias de Tantã & Liru e do Marselha. Aceitando ainda a sugestão de um amigo, passo a numerar e a assinar os exemplares, que não passarão dos 200 exemplares, como no número 1, e tal como pretendo manter nos próximos!

Simpático é o encorajamento de alguns leitores em que eu mantenha a explicação ou contextualização de alguns trabalhos, o que me agrada fazer e, assim sendo, vou continuando nessa senda!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Lobo, o Sócrates - Capítulo IV


O lobito, à medida que ia crescendo, em idade e volume, ia cobiçando cada vez mais um lugar confortável, na vasta floresta em que vivia. Só que, conforme ia pensando e desejando, cada vez mais na sua imaginação e apetite iam crescendo, e cada fantasia que tinha era, de dia para dia, senão de hora para hora, sucessivamente alterado para algo mais rico e colorido! E a sua imaginação paracia não ter limites!
Mas a criatura não se sabia saciar com os produtos da sua mente, por muito apetitosos que eles fossem! O tempo em que não passava à caça, ou a mirar as fêmeas que por ali iam passando, ia suspirando, encostado a um velho penedo, enquanto ia pensando no maravilhoso que seria se encontrase uma - ou mais - vias que tornassem tudo aquilo realidade. Para isso ia, atentamente, observando os lobos mais velhos e ouvindo as suas experiências; de tudo isso, seleccionava o que lhe parecesse mais provável de adaptar ao seu próprio perfil e, com isso, chegar a algum lado!
Se este lobo mentia com sucesso, retinha que mentir e enganar era uma boa ideia. Se aquele outro mostrasse que o uso de falinhas mansas era o mais acertado, para ganhar aliados, que diabo, era mesmo o mais fácil para chegar ao seu intento!
Seduzir lobas mais idosas, mesmo aquelas já meio peladas e carentes de alguns dentes, mas que possuissem recordações, conhecimentos ou contactos, valia! Com o tempo ganhou mesmo o hábito - depois difícil de afastar - de apreciar quase exclusivamente lobas maduras, maduríssimas, mesmo!
Como forjara um feitio afável e sociável, reflexo da sua avidez de conhecer quem importasse, acabou por ser aceite num amplo círculo social, ao início, num papel servil e submisso, mas sempre subindo em desejos e intenções, o que o incitava a, quando oportuno, camuflar essa "submissão" exibindo um perfil feroz e dirigente, traços que lhe eram mais agradáveis de assumir!
Ouvindo falar dos seus primos afastados, os cães, acabou por tecer por eles admiração cega: mostravam uma sujeição oportuna, o que fazia com que os seus "donos" os amimassem, alimentassem, reservassem mesmo local fixo para habitar...
Perto dali havia uma velha moradia onde uma velha solteirona de hábitos peculiares tinha precisamente um cão, de nome Sócrates, inofensivo por se encontrar sempre fechado num quintal. Se era perigoso ou não, era coisa impossível de se perceber por essa mesma razão, mas que ladrava entusiástica e ruidosamente, fazendo-se ouvir a quilómetros de distância, era coisa verdadeira!
- Que belo nome para alguém que se impõe, não pelo que faz, mas pelo quanto se faz ouvir! - murmurava entre fauces o nosso lobo! E em breve, na sua mente surgia a vontade de se baptizar com o nome do outro canídeo! E, como para ele, a "Vontade" era algo de imperioso...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Portugal, de Luís Diferr e Jacques Martim

Foi em 2002 que Luís Diferr apresentou a Jacques Martin, então em visita ao Festival da Amadora, alguns seus trabalhos. O autor belga, mesmo que já vendo mal, conseguiu de algum modo “perceber” a arte do Luís e, ao que parece, pouco depois encomenda-lhe que ilustre um livro sobre o seu personagem Lois, descrevendo Portugal numa suposta viagem documental desse herói! Ao que parece, mais uma vez, é que depois de um contrato que não foi fácil de negociar, Luís Diferr tinha dois anos para ilustrar o livro! Pois bem, só acabou a encomenda no ano passado;
Conheço bem o Luís, somos amigos de longa data, e já colaborámos, nos dois livros da série Dakar o Minossauro. Como guionista, foi sério, competentíssimo, imaginativo e bem humorado! Foi mesmo o único guionista com quem me senti entusiasmado em trabalhar! Desta feita, o seu rigor e preciosismo levou-o a ultrapassar os timings, a explorar até à loucura cada detalhe, cada perspectiva, com um olho atento e perspicaz. Não lhe foi negado qualquer documento, muitos foram os que mereceram da sua parte agradecimentos pelo apoio mostrado, permitindo o autor chegar a um trabalho como nunca foi feito em Portugal, e vários são os autores daqui que fazem trabalho com pesquisa histórica! Fica, assim, o Luís Diferr como o feliz autor de uma bela obra de pesquisa com uma qualidade iconográfica ímpar!
Pena que não se trate de um livro de banda desenhada, fica como que uma obra indistinta, como que um portfolio de imagens de reconstituição histórica sob uma aparência de álbum de bd, o que resulta num livro de aspecto um tanto infantil.
Curiosa foi a escolha da imagem para a capa: sendo o livro ilustrado com imagens tão densas, barrocas – como seria de esperar, visto a época retratada passar por esse estilo – a capa tem um trabalho limpo, despojado. A aproveitação da Torre de Belém não é estranha ao autor: além de a desenhar muito no livro, recorde-se que já a tinha “retratado” num pequeno – 2 páginas – episódio da Maria Jornalista…
Para concluir, refiro o trabalho de Jacques Martin, para este seu livro póstumo: Além de uma supervisão que se adivinha longínqua e vaga, apenas assina genuinamente o prefácio, pobre e banal. Muito longe estão os tempos em que assinou algumas obras-primas da bd belga.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Pesadelo de António Maria

António Maria da Silva era o Presidente do Ministério da Primeira República. Para "ilustrar" a "peça revisteira" Tiro ao Alvo, Joaquim Guerreiro fez um desenho animado que é considerado como o primeiro feito em Portugal: "O Pesadelo de António Maria". Os desenhos originais do autor foram preservados e, em base neles, artistas actuais reconstituiram em 2001 primorosamente o filme original, podendo actualmente ser apreciado, nomeadamente, a quem for ao CNBDI (Amadora) ver a exposição sobre BD - e não só! - e os 100 anos da República. A exposição é modesta e despretenciosa, iconográficamente já se viu melhor, tendo em conta a qualidade dos artistas cuja obra lá se encontra exposta. A permanente exibição deste filme é, em todo o caso, a jóia da coroa do evento.

Filme contemporâneo da medíocre série animada "Mutt and Jeff", "O Pesadelo de António Maria" não lhe fica à frente, mas merece ser apreciada por ser uma tentativa mesmo assim bem sucedida de animação pioneira entre nós! É claro, se era verdade que na altura Joaquim Guerreiro tactearia no escuro, perante uma tecnologia para a elaboração de desenho animado que lhe era provávelmente totalmente estranha, desenvolvida então pelas américas. o resultado não era muito melhor do que por lá se conseguia. Mesmo assim, por essas longínquas landes o acetato acabara de ser inventado, fazendo esta arte dar um salto, mas o autor luso ainda fazia todos os desenhos em papel branco, reproduzindo pacientemente tanto as personagens como os cenários, meticulosamente, nos 159 desenhos que constituem a matéria prima do filme. Isso é fácil de notar desenho a desenho, atentando-se nas "imperfeições" que se podem notar de imagem a imagem.

Sem uma indústria nem nada que se assemelhe por cá, que permitiria que a animação pudesse evoluir de um modo mais ou menos fluido, Joaquim Guerrerio fez tudo como lhe foi possivel, apenas munido de talento para desenhar, paciencia e uma boa intuição! O que já não é nada mau!

Provávelmente, se o filme for comparado com o que nessa altura era feita, o filme mesmo assim talvez seja algo fraquinho, mas compreensivelmente poder-se-á dizer que "para português, não está mau"! Num país sempre renitente em aceitar o moderno e o actual, esse "para português" é uma expressão que encoraja o "chico-espertismo", o "Quem não tem cão caça com gato", mas é este o país que temos, e inconformadamente podemos aceitar com algum entusiasmo algumas obras com valor feitas com esse nível de empenho. Como é o presente caso!

domingo, 25 de abril de 2010

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO SEIS

E aqui está a capa do primeiro número do Cadernos José Abrantes (Abril de 2010)!

Esta puiblicação tem uma tiragem de 200 exemplares e custa 10 euros. Sairá um número novo de 2 em 2 meses, mas o segundo número será adiantado para finais de Maio, para poder ser apresentado no Festival de Banda Desenhada de Beja.

Tem 46 páginas mais capas, é parcialmente colorido, e é básicamente constituido de portfólios, bandas desenhadas inéditas ou muito pouco conhecidas, gags e cartoons. O conteúdo é principalmente orientado para o público adulto!

Não estará à venda em postos comerciais, apenas o venderei caso seja encomendado por e-mail, telefone ou pessoalmente. Tudo para minorar as despesas!

Os contactos para esse efeito são:



Espero que gostem!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO CINCO

Compreendam-me, por favor! Não quero parecer desdenhoso, mas na verdade estou profundamente frustrado com o estado das coisas! Nada funciona bem nesta área em que trabalho, o pouco que ainda vai "andando", como alguns festivais, é com o medíocre ponto de vista - "em equipa ganha, nada se muda!", o que vai fazendo o entusiasmo dos visitantes ir esmorecendo! Mas é de espera que, quando se decidirem mexer, ainda não seja tarde demais!
Não pretendo nem desejo fechar as minhas portas a uma editora ambiciosa, mas sinceramente prefiro ir agindo, dado que acredito pouco no aparecimento de tal fenómeno!
Assim, vistas as coisas, e tomando conhecimento que com modernas tecnologias, podem-se fazer pequenas edições com qualidade de impressão irreprensíveis, apenas com um limite de exemplares que não permite uma distribuição dita "comercial", pelo contrário, estou a ultimar alguns projectos para serem produzidos nesse âmbito! Naturalmente, a sua venda será "limitada!" a uma divulgação por amigos, algumas visitas a escolas ou bibliotecas públicas, ou por divulgação online!

sábado, 17 de abril de 2010

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO QUATRO

No meio disto tudo há, também, os festivais! Poucos - muito poucos! - têm destaque de monta, atraem pessoas, curiosos, coleccionadores, compradores, autores! Para mim, é agradável visitá-los, sinto-me entre iguais, convivo com camaradas que raramente tenho outras oportunidades de ver, com pessoas que têm, como eu, curiosidade pela Banda Desenhada, ilustração, etc.
Sinto, mesmo assim, que há como que um esgotar da receita, um repetir o que já teve sucesso dantes ou pior, fazer do mesmo porque não há ideias para melhorar ou substituir! Dou três exemplos:
1 - Há, geralmente, um espaço destinado a crianças: é pouco apelativo, com o material exposto mais ao nível dos olhos dos adultos, pouco estudo sobre se o material exposto é de facto interessante para um pequenino! Uma criança é um futuro leitor de livros - de BD ou de outra coisa qualquer! - e, por isso mesmo, devia haver bem mais que um espaço a si destinado, algo como um refugo, uma parte menos interessante de visita! Como que para deitar poeira aos olhos de um crítico que aponte essa lacuna, referem os organizadores que há um espaço para venda de pipocas - o best-seller em qualquer evento cultural onde isso esteja incluido! - ambientes de leitura de conto, pinturas faciais... Como se vê, há muito ainda a conquistar, caso a inércia caia!
2 - Os autores portugueses deviam ter mais hipóteses de conviver com os seus iguais estrangeiros! Raramente isso sucede com mais relevo do que poderem estar, lado a lado, durante sessões de autógrafos! Ou seja, mal se dirigem, visto estarem - naturalmente! - mais atentos ao autografar dos seus trabalhos pelo público que aparece!
3 - Deviam ser convidados, a par de artistas estrangeiros, editores ou profissionais, que pudessem apreciar a produção nacional e, eventualmente, tentar colocá-la em outros países!
O que é um facto, é que há uma cada vez maior lassidão entre os visitantes, os vendedores e os artistas frequentadores de festivais! Estou seguro do que digo, visto basear-me em conversas pessoais com várias destas pessoas.

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO TRÊS

Não quero parecer desdenhoso ou com dôr de cotovelo, gostava que uma editora nacional se interessasse genuinamente pelo meu trabalho! Mas não tem sido o caso, longe disso! Por outro lado, não aceitaria, de braços abertos, uma editora que se limitasse a pôr os meus livros cá fora; exigiria muito mais dela! Campanhas, promoções, estratégias de divulgação dos livros, ou seja, coisas que dão trabalho e, como se sabe, pelo menos aqui na Piolheira, toda a gente quer ter ordenado mas, se para isso tiverem de trabalhar, Deus os livre...!
E, pela minha experiência, "deitar cá para fora" um livro, sem mais, é o mesmo que o deitar para o lixo...

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO DOIS

Como muitos sabem, tive a "sorte" de, há anos, ter tido uma editora. Foi uma experiência intensa, que deixou boas e más recordações, e muitas conclusões! Na altura, só a Méribérica imperava, com uma repulsa compulsiva em aceitar no seu catálogo autores portugueses. A minha editora, a BaleiAzul, tentou inverter a situação. Sem grande sucesso. Mas na sua senda, outras editoras tentaram a sua sorte, umas com maior triunfo, outras com menor. Mesmo assim, por uma razão ou outra, tiveram os seus altos e acabaram por ter os seus baixos. Inexorávelmente.
Um dos principais "inimigos" (retiremos as aspas, já agora!) de uma esditora é a distribuição! na altura, há pouco mais de 10 anos, exigiam mais de metade do preço do livro, e pelo que me tem sido contado, hoje pedem ainda mais! Com essa parcela canibal, justificam as possiveis campanhas com descontos que os livros podem ter em livrarias, feiras de livro, etc! Esquecem-se, de qualquer maneira, de dizer que muitas dessas campanhas não abrangem TODOS os livros em exibição e venda, ganhando assim mais do que deviam. Tanto as livrarias como as distribuidoras.
Fazendo um parêntesis para abordar as livrarias, são geralmente geridas por incompetentes que poico mais fazem além de pôr os livros em escaparates e alguns nas montras! Não há dinâmica, ideias, estratégias! É mais tipo aranha que, depois de tecer a sua teia, nada mais faz alèm de esperar que a incauta borboleta ou mosca lá se prenda! Rara é a livraria que não soma dívidas, recusando-se a pagar atempadamente aos seus fornecedores! Uma "crise" bem portuguesa! Cada vez mais, os vendedores são impreparados e incultos, não sabem o teor de um livro, nem sugerir um título a um eventual cliente. Para saber alguma coisa, dependem exclusivamente do computador da loja. Longe vão os tempos em que, indo alguém a uma livraria, o vendedor, amável, sabia de cor quase todos os titulos à venda e sabia, por exemplo, se um cliente pretendia o "Singularidades de uma Rapariga Loura", que não era um romance mas um conto, em que livro se podia encontrar e quem era o seu autor! Fecho o parêntesis. Foi curto, mas não tenho muito mais a dizer!
Regressando às distribuidoras, há que reconhecer que, quando honestas, têm de dar a cara pelas dívidas de que as livrarias são responsáveis! mesmo assim, na experiência da BaleiAzul, poucos foram os meses em que as contas eram saldadas dentro do praso estipulado no contrato! Outra razão de queixa passava, de novo, pela insensibilidade - ou ignorância - do material a gerir! lembro-me, por exemplo, de uma organização que pediu à editora uma feira de livros infantis. Não tendo grande coisa dessa matéria no nosso magro catálogo, passámos o contacto para a nossa distribuidora, que encheu o espaço amplamente, com alguns livros infantis, mas com muito livro que nada tinha a ver com crianças, desde policiais, estudos sociolõgicos sobre homossexualidade feminina (!) entre outras avantesmas!
Contam-me que actualmente o sistema está em crise. Como se nunca tivesse sido de outra maneira! E que as distribuidoras sucedem-se, continuam a dever dinheiro e que o sistema, gerido por livrarias e distribuidoras, está preso no lodaçal!
Deus me livre cair de novo nas suas mãos!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO UM

Hummm! Como começar este poste? E como o desenvolver, sem exibir demasiada acidez? Pois bem, é mesmo só avançar, e ver no que dá!


Sou um autor com gostos variados, pouco fixos ou fiéis nesta ou naquela escola! Há artistas, estilos e géneros narrativos, na banda desenhada, tão diferentes entre eles e, ao mesmo tempo, tão atraentes! Tenho recordações de ser muito pequenino e já estar rodeado de álbuns, fossem do Tintin, do Strapontan ou do Humpápá, ou de muitas revistas, a maioria delas comic-books traduzidas para brasileiro, num papel mau, impressão tão má que por vezes imagem ou texto não apareciam, dando um toque algo fantasmagórico a certas histórias! Lembro-me bem de uma em que o Bolinha... Bem! Retomo o assunto!

Entre revistas, o género preferido norte-americano (além das tiras diárias!) e o álbum, bem mais franco-belga, acabo por dar preferência ao segundo: permite uma maior durabilidade do objecto, e quase sempre é mais bonito! Que bom é ter um álbum de aventuras nas mãos, poder lê-lo as vezes que entender e, caso não o trate à bruta, poder devolvê-lo à estante, em tão bom estado como de lá saiu?

Por isso mesmo, quando comecei a minha profissão, não descansei enquanto não tive um álbum editado, o que aconteceu em 1990 com Contos do Nordeste Transmontano, com texto de Jorge Magalhães! Enfim, o dito livro tem, a meu ver, mais defeitos do que qualidades, mas poderia ir corrigindo os primeiros à medida que fosse fazendo novos livros! E, sempre que era possível, todas as coisas que ia fazendo para a imprensa - revistas, jornais! - tentava planeá-las de modo a poderem depois, mais tarde, inseri-las num álbum...

Nos inícios dos anos 90, graças a um espírito algo ingénuo e generoso das Edições ASA, publiquei nada menos que sete álbuns! Bem bom! Já começara a escrever - e desenhar - os seguintes, quando a má notícia explodiu, qual granada, nas mãos de muitos ansiosos autores que, tal como eu, dependiam dessa editora: por má gestão do seu stoque, deficiente e preguiçosa distribuição, e total ignorãncia do produto que geriam - lembro-me que me aceitavam projectos entusiásticamente, sem sequer indagarem o seu conteúdo! - a direcção da editora, quase arruinada, cancelava o projecto editorial! Passo sobre os detalhes criminosos com que nos desencorajavam a continuar! Tudo isso, lembro-me bem, foi "revelado" numa reunião preparatória para um Festival de BD da Amadora, onde o tema forte foi esse, ao contrário do que se previa, naturalmente: discutir o evento seguinte! No meio de muito palavreado, o meu amigo João Paiva Boléo, algo irritado com a aflição dos autores presentes, defendia que já que não haveria possibilidades de fazer mais álbuns, que devíamos passar a fazer edições de autor! Esse ponto de vista foi desprezado pelos presentes com exclamações impacientes! De facto, não há "casamento" possível entre uma BD dita "de álbum" e uma edição de autor! São cisas distintas! Tentem imaginar, por exemplo, A Marca Amarela em edição de fanzine, ou obras de Crumb devidamente coloridas, polidas e enfiadas num álbum à francesa! Não dá!


* * *


Tudo isto acaba por vir ao caso com a minha actual situação: não tenho editora capaz de editar os meus álbuns, há já uns bons anos! Já me cansei mesmo de o propor, de bater à porta das possíveis editoras! Eu desenho e conto histórias por prazer, e não por encomenda; o que faz que, actualmente, tenha cerca de uns cinco inéditos, todos completos ou práticamente completos, para álbuns de banda desenhada! E no que toca a livros ilustrados, em pouco tempo reuniria uns 10 livros, ou talvez mais! E projectos "em carteira", seriam mais outros dez! Muito complicado! Farto da engonhice editorial actual, e da incompetência que alguns editores vão mostrando, anunciei, no Verão do ano passado, que suspendia a minha carreira! Durante mais de dois mezes não fiz um traço que fosse, e não tinha mesmo vontade de o fazer! Com o passar do tempo, lá retomei o pincel, fui fazendo umas telas, umas aguarelas, algumas das quais tive a sorte de ir conseguindo vender! e actualmente, depois de umas promessas - falsas - por parte de uma editora em editar coisas minhas, retomei o prazer em fazer coisas! Estou mesmo a iniciar o quarto álbum de Homodonte (só os dois primeiros estão editados, o segundo dos quais está redondamente esgotado!) e, como costume, trabalho por gosto, não há no horizonte qualquer proposta de me editarem esse ou outro trabalho!

Há uns meses atrás, foi-me proposto - mas não teve seguimento! - a participação numa exposição de arte erótica, que terá lugar em breve no Porto! Pensei, à cautela, que teria uns oito ou dez desenhitos que lá poderiam figurar... Pois bem, fui a uma das caixas de arquivo onde guardo os meus desenhos e. ó espanto! Tinha, no mínimo, entre cinquenta ou oitenta originais que poderiam figurar na dita exposição! É cá uma coisa, desenhar por gosto e, por não ter encomendas, ir guardando, guardando, até me esquecer que fiz isto ou aquilo! E tenho dezenas de pastas com desenhos completos, uns a cores, outros não, com muitas e diversas temáticas! É claro que, inicialmente, a ideia que me veio foi fazer um portfólio... Mas com que meios, tiragem, e para vender aonde!?


(Continua)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

CONSIDERAÇÕES LUPINAS

O lobo é um animal que nos entra pela vida adentro de uma maneira ou doutra! Seja pela mitologia, por parábolas - O Bom Pastor - contos de fadas, fábulas, romances, diversas superstições... Rara, por isso mesmo, é a criança que não tem pavor ao coitado do bicho, muitas vezes vítima de acusações infames por parte do bicho homem!
"Lobo Mau" quase que podia ser o nome real do "Canis Lupus", tal é o medo que o simples mencionar do animal causa!
Estava eu imbuido de muitas más ideias sobre ele, quando conheci o Francisco Fonseca, em meados dos anos 80. Esse biólogo que amávelmente me recebeu no seu gabinete, na Faculdade de Ciências de Lisboa, em palavras, argumentos e leitura fornecida convenceu-me que, de mau, o lobo de facto só tinha a fama! Esse encontro não só mudou a minha forma de pensar sobre o bicho, como me fez passar a questionar famas, mais ou menos ligeiras, geralmente populares, que muita da bicharada possui. Mais, o tema do lobo "bom" passou a inspirar-me para muitas histórias. Imediatamente, ocorre-me "Os Fundos Perdidos", segunda aventura de Tobias Bigom (ASA, entretanto esgotada), em que não só dou um apoio à boa causa lupina, como até caricaturo o Francisco Fonseca, na personagem que protege os três lobinhos, cuja mãe foi vítima de um javali (inversão trágica de papéis da história dos Três Porquinhos!)... Poucos anos depois, no livro Histórias de Natal (Col. Pigmeu, Ed. ASA, entretanto esgotado), conto uma pequena história de um lobo, solitário no mundo dos animais, dado a sua má frama... essa mesma história desenvolvo-a com mais sucesso no segundo livro das Aventuras do Zu, "O Natal do Lobo". Finalmente, não esqueço as duas páginas de "Licantropelias", publicadas em meados dos anos 90, no Notícias Magazine... Esta última história retomei-a recentemente, digitalizando os originais e dando-lhe novas - e melhores - cores, assim como lhe fiz uma revisão ao texto.






















***

O meu amigo Marc Parshow tem uma pequena editora, a Qual Albatroz, na qual faz sair a sua revista (fanzine? prozine?) Celacanto, da qual saiu recentemente o segundo número. Homem sensível a causas ecológicas, dedica esta publicação exclusivamente à defesa de animais em vias de extinção! O primeiro número (2009) foi dedicado ao albatroz, e este segundo ao lobo! Foi, precisamente para nele ser incluida, que retoquei a "velha" BD!
Porque o sucesso do primeiro número foi evidente, maior número de autores quiseram servir a causa dos lobos neste segundo, pelo que este número dois tem considerávelmente mais páginas; perde, porém, pela má prestação em geral dos autores, muito amadores e repetitivos, não só na abordagem visual como na mensagem com que servem o tema! Parecem não aprofundar o assunto, além de meia dúzia de ideias-feitas, e há mesmo quem, na pressa em "vitimizar" o coitado do lobo, o torne um afáfel vegetariano! Um problema dos ambientalistas passa mesmo por isso, na preocupação excessiva da "santificação" de feras, o branqueamento do seu "cadastro"... Ora isso é tão estúpido como desonesto, e serve mal - ou não serve mesmo! - a causa, por total incongruência, que até uma criança saberia desmontar! No entanto, entre os poucos trabalhos divulgados neste Celacanto, destaco o "Lobo e Cordeiro", de Eric Ricardo, que com equilíbrio estético e narrativo, conta uma história poética e amável! Contra a corrente, com uma histórinha brilhante - mas servida de um mau desenho, "O Que se Passa???" de Royzac, merece igualmente uma e outra releitura! De parabéns está, igualmente, Miguel Rocha, pela bela capa (e contracapa) da revista.







sábado, 10 de abril de 2010

PORTFÓLIO (NÃO TÃO DIÁRIO ASSIM!) - VII


Tintin e o Coronel Esponja

Irmão mais novo de Georges Rémi (Hergé), Paul Rémi foi sobretudo conhecido pela sua carreira militar, tendo-se destacado - e feito prisioneiro - durante a Segunda Guerra Mundial o que, entre outras coisas, teve por consequência que o seu irmão artista negociasse com Adolfo Simões Muller a publicação de Tintin em Portugal, país neutro no conflito, contra o pagamento em géneros sobretudo alimentícios, que seriam expedidos do nosso país para o campo de prisioneiros onde Paul estava aprisionado - e de onde se tentou evadir mais que uma vez!

Natruralmente não tão brilhante autor como Hergé, deixou-nos 3 livros - que igualmente ilustrou - recentemente reeditados - Les Chevaux du Major, Petite Histoire de l'Equitation, e En Selle!, versando sobre o tema que os títulos sugerem!

Ao que consta, Paul Rémi era um homem mulherengo, cavaleiro de primeira ordem, algo conflituoso de de linguagem viva, o que em parte se reflecte na criação do Capitão Haddock; mas, se os irmãos não mantinham uma grande cordialidade entre eles, devido sobretudo às posições de cada um durante o já referido conflito bélico, Hergé não se inspirou no irmão apenas para o troculento capitão: nunca escondeu que, aquaqndo da criação do personagem Tintin, "copiou" gestos e atitudes do irmão mais novo para o desenho e personalidadce do jovem repórter. Bem mais tarde, em meados dos anos 50, voltou a retratar o mano napersonagem do Coronel Sponz. Quem conheceu Paul Rémi dizia que eram flagrantes dele com o coronel stalinista (perdão, plexzigladista!) Nos desenhos desse vilão podemos reconhecer um Tintin algo corrompido pela idade e pela vida, mas mantendo o nariz ponteagudo e arrebitado, a poupa, agora morena e acachapada, e o rosto eternamente oval...

Para terminar, refiro que Paul Rémi figura, ao lado do próprio Hergé e da sua mulher Germaine, (além de Jacobs e Van Melkebeke, amigos e colaboradores pontuais do autor), na famosa Recepção Real (página 59) do livro O Ceptro de Ottokar, onde é uma notória "fusão" pictórica de Tintin e Sponz, quase sugerindo queo (nessa aventura) ainda jovem Sponz era um militar Syldavo, que futuramente passaria para o campo Borduriano...

Os Schtrumpfs

Teria os meus 9 ou 10 anos quando, pelo Natal, recebi este livro: Os Schtrumpfs Negros, da União Gráfica. Noutro embrulho, vinha Os Táxis Amarelos, da série Kim Kebranós, ambas as obras de Peyo! Foi práticamente a primeira aproximação que tive a este autor, e foi fundamental! "Amei" os Schtrumpfs, tentei mesmo começar a falar "schtrumpf", como tantos da minha idade, sobretudo na sua terra natal, a Bélgica! Depressa dei-me conta do ridículo da intenção; estava quase a chegar à adolescência, e os gostos - e manias - estavam a mudar. Mas o meu amor pelos Schtrumpfs perdurou, comprei mais alguns livros, alguns em português, a maioria em francês (numa escrita correcta e escorreita, simples e adequada para a leitura por jovens!). Já adolescente, passei a preferir a leitura da série Johan et Pirlouit, do mesmo autor e onde os gnomozinhos fazem as suas primeiras aparições!

Quando os Schtrumpfs (ou Schtroumpfs, no original) passaram ao cinema e mais tarde à televisão, já eram algo que não me iteressava: eram os tempos em que preferia sobremaneira as leituras de Bourgeon, Pratt e Moebius...

Actualmente retomo com prazer a leitura dos seus livrinhos, para acompanhar os meus filhos que, por sua vez, descobrem com delícia...

Luto sentido


José Antunes (1937 - 2010) era não só um bom artista como um excelente camarada, com quem tive algumas boas conversas. De olhar e traço vivo, gostos actuais e bem informados, não era dos caretas que repetem que "dantes é que era bom!"

Apreciava estilos modernos e novas correntes, ao mesmo tempo que não desdenhava os clássicos!

Tive a sorte de participar no livro - colectivo - Salúquia - A Lenda de Moura em Banda Desenhada.

A nossa banda desenhada ficou mais pobre, e eu perdi um bom amigo!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Lobo, o Sócrates - Capítulo 3

O lobo que tanto impressionava os seus iguais tivera uma modesta origem, de uma loba normal, sem mérito ou realce de maior. A modesta criatura contentava-se com pouco: um ossito aqui, uma carcaça carcomida e vetusta ali! O coitado do lobito, que nascera guloso e assim permanecera, ficava constantemente desolado com o parco jantar que recebia! Ainda hoje se lembra, amargo, daquela vez que a mamã lhe trouxera algo que a custo se identificaria com uma osga, negra e ressequida, provavelmente morta há meses e que, surpreendentemente – ou talvez não! – nem as formigas ou carochas lhe deitaram o olho nem com a mais vã curiosidade! Não fosse o seu sabor a lama e a terra, e aquilo ter-lhe-ia sabido tão maaaaal! Estava mais que certo disso!
Crescera a ver a outra bicharada com alimento certo e basto, e num calor familiar que não era só o aconchego da toca ou do ninho que o garantia: o permanente palrar, crocitar, regougar ou simples chiar eram prova bastante de calor familiar durador! Ah, os passarocos constantemente alimentados, asseados e mimados tanto pelo pai como pela mãe, enquanto, no seu caso, do pai nem sabia o nome! Sabia quem ele era, via-o de relance ao longe, na vasta mata, mas nem ousava aproximar-se, com medo de ser mal acolhido: por alguma razão ele não o quisera por perto desde que nascera!E assim foi desenvolvendo um instinto inseguro a seu respeito, sentindo-se mais miserável, pobre e desamparado que os outros! A velha da mãe só se ralava com a comida, a limpeza do recanto onde habitualmente se acolhiam, e em pouco mais pensava, a coitadinha! Horizontes magros para um lobinho que ia crescendo, invejando a alegria que imaginava os outros possuirem. . .

PORTFÓLIO (NÃO TÃO DIÁRIO ASSIM!) - V


Arzach

Arzach é um verdadeiro caso de um livro-culto, aliás como acabaram por ser outros, do mesmo autor: Moebius, pseudónimo (heterónimo?) de Jean Giraud. Na verdade, Giraud já tinha uma extensa e gloriosa carreira assinando "Gir", sobretudo com a fabulosa série "Blueberry", com histórias de Jean-Michel Charlier. De episódio a episódio o desenhador aprimorava o seu estilo, inovava, experimentava, progredia num prodígio gráfico e visual, coisa possível de ser avaliada por qualquer leitor mais ou menos atento. Rápidamente foi possível constatar que era um génio em crescendo, um virtuoso atento às técnicas da sua arte, técnicas essas que ele mesmo muitas vezes inovou em conceitos e grafismos verdadeiramente revolucionários! Curioso e constatar actualmente, que esse autor já septuagenário ainda não se cansou de nos surpreender, enchendo-nos os olhos com desenhos e cores de uma beleza, cor e elegância absolutamente sem igual! Como dizia uma vez Giardino, outro artista italiano de grande qualidade: "Nós (seus colegas), temos um talento, maior ou menor. Mas ele é diferente, é um extraterrestre!". Embora este depoimento revele mais entusiasmo que rigor artístico, subscreve o que muitos apreciadores sentem ao ter nas mãos os livros de Gir/Moebius!

Quando assina "Moebius", o autor liberta-se da carga documental e avança sobretudo com a pura intuição e instinto narrativo/visual, aparentando pouca ou nenhuma reflecção! Naturalmente, isso é apenas aparência, visto não haver artista algum, sobretudo se for bom, o que é o caso! que não faça apurada e permanente reflexão sobre o seu trabalho, mesmo que o faça de um modo inconsciente... Outra característica de Moebius é a opção de centrar os seus temas num ambiente de Ficção Científica, o que faz quase sem excepção. Assim pode dar largas à sua imaginação, inventando mundos, quer civilizados ou não, guarda-roupas para personagens, criaturas, animais, mutantes ou paisagens visualmente fabulosas.

Possuo duas edições de Arzach: a primeira, de 1978, e uma mais recente e mais "completa", de 2000.

A primeira, mais sucinta e incluindo "apenas" os episódios ARZACH, HARZACK, ARZAK e HARZACK, prima pela total ausência de texto, seja narrativo, onomatopaico ou outro, cum uma tímida excepção num pequeno balão de um figurante na última página. O segundo livro acrescenta, além de um útil prefácio do autor, a história "La Déviation" que, méritos à parte, nada tem a ver com o conteúdo do livro, além de uma BD também do ciclo Harzach que o autor tinha deixado incompleta - e que terminou para a presente edição, presume-se - embora não valorizando em nada o trabalho no seu geral e, finalmente, uma nova história, de novo intitulada "Arzach", onde os textos reinam profusamente, conferindo-lhe um ar muito apócrifo!

Prefiro, por todas as razões, a primeira edição! mais sucinta, "completa", "fechada". O meu exemplar tem o autógrafo "sucinto" do autor.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pastiches - Tintim (2009)

Não considero que seja a minha especialidade mas por vezes é-me pedido que faça um pastice, geralmente em edições (fanzines) colectivas, onde cada um terá a sua versão, mais ou menos feliz, de um personagem ou tema... Neste caso o "alvo" foi Tintim e confesso que, até à data, foi o mais feliz dos pastiches que fiz: não apenas tenho uma adoração particular por Tintim como acho que visualmente e temáticamente me saí bem... Estejam à vontade para opinar!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Lobo, o Sócrates - Capítulo 2

OS AMIGOS DO LOBO



Na tal floresta há um ditado que versa o seguinte (a ver se me lembro como é:) - "Lobo é amigo de lobo! Coelho é amigo de coelho"! Poder-se-ia acrescentar uma infinidade de outras possibilidades: "Caracol é amigo de caracol" , "gralha é amiga de gralha" etc, etc, etc... Mas não interessa: desde que se lhe apanhe o sentido, o ditado funciona! E este refere simplesmente que somos amigos de quam mais se parece connosco, ou de quem mais nos interessa que nos assemelhe! É claro que não se recomenda a uma perdiz que tente parecer-se com um lobo: não lhe está bem na pele e o resultado só poderia ser mesmo o pior!

Pois bem, todos os lobos pretendiam ser amigos de um certo lobo, porque o consideravam o mais feroz, poderoso, dominador da floresta! Sendo amigo - e colaborador - dele, pareciam mais que garantidos os melhores quinhões, os mais apetitosos petiscos, os mais solarengos locais para habitar! E por isso entre a alcateia todos se entusiasmavam sonhando com uma proximidade maior com o referido lobo! Uns contavam faze-lo com boas conversas, discursos lisonjeiros e apelativos! Outros, planeavam chegar-se perto dele ofertando-lhe pedaços de suas recentes caçadas, peças por vezes inteiras ainda mornas de captura de horas atrás, traziam-lhe água fresca de ribeiros que nem ficavam longe, mas mesmo assim prestavam-lhe o favor de a trazer a seus pés! Pés esses que, para alguns, eram susceptíveis de serem deliciosamente lambidos, enquanto outros haviam que sonhavam com a sua autorização para que o deixassem catar pulgas, piolhos e carraças, o que desejavam fazer minuciosamente, bicho a bicho, com mil cuidados! Finalmente, havia umas - e uns! - que sonhavam servi-lo com o seu corpo, tremendo só de imaginar que não estivesse à altura do seu gosto, ou por serem magros, ou gordos, ou coxos, zarolhos ou simplesmente remelosos!

Era ver aquela alcateia toda suspirante, encolhendo os ombros ou sacudindo-se, revelando um nervosismo patente nas suas expressões! Uns ganiam e gemiam, não conseguindo imaginar como oseduzir ou encantar, inseguros pelas suas fealdades ou falta de imaginação! Outros apresentavam um ar sonhador, esboçando sorrisos que só eles não sentiam ser patetas! E era vê-los, quando a sombra do tal lobo passava por eles! Uma loba de meia idade, contava-se, desmaiou mesmo, por essa mesma sombra a ter coberto parcialmente!

Esta alcateia estava mesmo no mais completo desatino!

PORTFÓLIO (NÃO TÃO DIÁRIO ASSIM!) - IV


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Alix L'Intrepide



Teria eu uns 17, 18 anos quando comprei este livro, num alfarrabista lisboeta. Trata-se da primeira edição desta obra, a primeira aventura de Alix, herói de Jacques Martim, Éditions du Lombard, 1956. Ou seja, saiu pouco depois de a aventura do jovem herói galo-romano ter saído nas páginas da ainda muito jovem revista Tintin, na Bélgica.
Jacques Martin sempre se mostrou muito amargo quanto ao facto de Hergé não se ter mostrado nada entusiasmado quanto à inclusão do seu trabalho na revista. e isso acabou por suceder apenas por falta de outro material novo; mesmo assim, o sucesso de Alix foi, ao que parece, imediato. É, no entanto, fácil dar razão ao autor de Tintin: tanto o desenho como a narrativa da obra em causa deixava muito a desejar, com imagens algo primárias, com recitativos e diálogos longos e redundantes, personagens muito rígidas e inexpressivas....
Numa segunda versão (também possuo a primeira edição desta!), nos anos 70 do século passado, as cores foram melhoradas, os textos revistos e a capa foi totalmente redesenhada, mesmo que segundo o modelo da anterior. Contudo, é um livro que dá pouco gosto de ler!
O exemplar desta primeira edição que possuo está num estado longe de ideal, tem rasgões vários e suspeito que uma página - em branco - lhe falte. Não impede, todavia, que numa sessão de autógrafos em 1990, na Livraria Bertrand, em Lisboa, o autor me tenha mostrado uma expressão viva, sugerindo o seu grande valor e raridade; para seu espanto, pedi-lhe que desenhasse no livro o inimigo de Alix nas suas aventuras iniciais, o pérfido grego Arbacés!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Lobo, o Sócrates - Capítulo 1

Era uma vez uma floresta à beira mar plantada! Mas não era uma floresta como as que os meus amiguinhos estão habituados a ver, ou a imaginar!
Esta, só era frondosa e verdejante em alguns pontos, esparsos e dispersos, difusos e confusos! Em muitos cantos, recantos, áreas inteiras, só se via ou poeira, rochas e rochedos, ou arbustos raquíticos como que entrelaçados uns nos outros, numa extensão vasta! Crises graves iam assolando o terreno: aqui eram inundações, ali, falava-se de secas, haviam incêndios, epidemias, pandemias e outras arrelias! De maneira que a bicharada que por ali havia nem conseguia pensar em muitas coisas, a não ser nas suas famílias, como as alimentar e manter em lugares seguros…
É claro que, como em todas as florestas, uns bichos são mais fortes que outros, uns mandam, outros não mandam! Quer a Lei da floresta que os que não mandam obedeçam e paguem tributo aos que mandam, e assim foi e será desde sempre e para sempre.
Quem mandava nesta floresta (e ainda manda!) é o lobo Sócrates! Imaginem um bicho de mau pelo, possante e barulhento, que se faz ouvir em toda a floresta bastando para isso dar um passinho que fosse! Mas ele não se limitava a isso, e movia-se, todo feliz e muito à-vontade por todo o território! Por isso o ruído que causava era tanto, que era difícil um bicho que fosse não pensar nele um segundo! E todos o temiam! O lobo Sócrates tinha imaginação – ou dizia que tinha! – e isso tornava-o instável, sempre em plena actividade, para seu conforto e para desconforto dos outros!

Nesta longa fábula iremos contar as histórias deste bicho mau, tão mau que só o podiam achar mau, à sua volta! Recomendo que os meus amiguinhos apenas a leiam de dia, para que à noite não tenham pesadelos e façam chichi na cama!
(Continua)

PORTFÓLIO DIÁRIO - 3


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

GALERIA DE ARTE (1) - Franquim

Uma nova rúbrica, onde mostro originais e raridades que me foram presenteadas por artistas que admiro; neste primeiro, uma verdadeira pérola: um marsupilami, de André Franquim. Tinha eu 20 anos (1980!) e escrevi-lhe uma carta, num francês tímido mas que de algum modo o tocou, visto que na volta do correio recebo isto! Gosto de poder dizer, graças a esta imagem, que possuo um verdadeiro marsupilami! A série Spirou foi a primeira que coleccionei, e comecei logo - a conselho do meu pai, que era conhecedor - por comprar o álbum "Spirou et les Héritiers", que ainda tenho, e onde aparece este fabuloso animal pela primeira vez! Tantas e tantas vezes, em miúdo, que desenhei este personagem, ora copiando-o dos livros, ou inventando novas poses e expressões, sonhando um dia poder vir a fazer histórias dele!

PORTFÓLIO DIÁRIO - 2


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

PORTFÓLIO DIÁRIO - 1

Começo hoje a postar aqui imagens da minha lavra diáriamente - em princípio! - que não tenham forçosamente texto ou narrativa a complementar. Espero que gostem. Opinem!

domingo, 31 de janeiro de 2010

A História de Haaanoué-Yamaaabor, da Lua e das suas filhas

Havia um pescador, de nome Haaanoué-Yamaaabor, que pescava num mar muito tranquilo, cristalino, com uma larga rede.
uma vez atrasou-se no mar, e anoiteceu, e deu consigo na mais completa penumbra!
Haaanoué-Yamaaabor não era medroso, e ali ficou, tranquilamente.
Haaanoué-Yamaaabor era o quinto filho de Hammaon-Jabassar, e sempre fora considerado belo, mas calmo, ponderado
nunca mostrara interesse pelas belas jovens das ilhas
E ali estava ele, no meio da penumbra total
até que algo reflete no mar
Uma enorme Lua, bela, prateada
Haaanoué-Yamaaabor ficou fascinado, pasmado...
Seduzido com tamanha beleza
sem hesitar, de tão entusiasmado ficou, lançou a rede, querendo capturar a Lua.
esta rápidamente se viu capturada, e debalde tentou defender-se
estava completamente imobilizada na rede, que agora era puxada por Haaanoué-Yamaaabor, ao seu encontro!
Em breve ele, contente, triunfante mesmo, a tinha nos braços!
e, vigorosamente mas gentilmente, ali mesmo a possuiu!
Haaanoué-Yamaaabor em breve se sentiu cansado, fatigado, mas muito feliz
aproveitando uma sua breve passagem pelos sonhos
a Lua, agora liberta da rede, fugiu, céu acima!
e muito alto ficou, para não mais ser alvo da captura de qualquer outro pescador!
com o tempo, todas as tribos a foram observando e admirando
com o tempo ela ia aumentando de volume
até ficar totalmente redonda
totalmente redonda.
até que um dia, coberta pela luz solar, ela como que se abriu
e dela jorraram milhões de estrelas, constelações inteiras de estrelas
O espectáculo que na noite seguinte os habitantes das ilhas viram foi maravilhoso!
O Céu já não era o mesmo, nem nunca mais o seria!
Por isso ainda hoje, sempre que vejo o céu nocturno, com a Lua com as estrelas brincando em seu redor
Penso que todo o firmamento foi fruto do amor de Haaanoué-Yamaaabor pela Lua.
E compreendo muito bem esse amor, porque a lua é linda!

Fim!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

JOURNEY TO THE CENTRE OF THE EARTH

Ah, nostalgias! Deve ser da idade, acabo por ser afectado, agora ou depois, por este sintoma, por vezes irritante, outras, laudativo! Dou comigo a vasculhar os sótãos do Youtube e a descobrir, seja o My Sweet Lord (e o tão belo e triste Isn't a Pitty) do George Harrison, algumas coisas dos ABBA (meu Deus, que piroso me estou a tornar! Aquilo sabe a chá e torradas!), os Procol Harum e, mais recentemente, o Rick Wakeman e o seu Journey to the Centre of the Earth!

É pomposo, emfatuado, redundante, ridículamente épico, por vezes previsivel ou pouco original ( o Ed. Grieg deve estar há anos às voltas no túmulo!) mas apaixonante e intenso! Farto-me depressa, confesso, mas sobretudo aquela abertura faz-me lá voltar, fiel e submisso!

Outro valor acrescido à obra, é que ajuda a repensar a obra do Júlio Verne! Assim, não precisamos apenas reimagina-lo com a sua escrita entusiasmada mas cinzenta, cheia de anotações geográfico-científicas tantas vezes já tomadas pelo sépia das coisas velhinhas, mas surge-me sobretudo como um visionário poeta, rico em imaginário fabuloso e delirante, com um cariz fortemente onírico. Embora, para isso, o George Meliés já tivesse feito o seu trabalho, muitas décadas antes do já velho Rick...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Eric Rohmer - 1920 / 2010

Tenho dois filhos: a Leonor, que tem 10 anos, e o Frederico, com sete. Ambos têm boa sensibilidade artística: são exímios no desenho - embora devessem praticar mais!- gostam muito de ler e ver filmes, no que têm opinião crítica e, finalmente, a Leonor é uma poetisa. Com obra publicada, mesmo que em jornais regionais! Pode ser um princípio! Pois bem, ontem a menina presenteou-me com um belo manuscrito, onde tinha este poema, depois de vários meses sem me mostrar nenhum novo! Com muito gosto vo-lo transcrevo:


A ESCOLA


P'ra quem gosta de ir à escola,

P'ra quem gosta de aprender

P'ra quem gosta do recreio

P'ra quem quer mais saber.


Oiçam bem, meus amiguinhos

Vou falar-vos com doçura

Só existe a aprendizagem

Não existe a escravatura.


Meninos de todo o mundo

Tenham amor e amizade

Dêm valor à vossa escola,

E nela só exista felicidade.


Todos nós temos amigos

Todos temos liberdade

Temos regras e direitos

Somos sábios de lealdade.

domingo, 24 de janeiro de 2010

O Brasil é, para mim, no mínimo, um país colorido! Desde muito criança que adorava ler as revistinhas da Abril (Disney) e não só, e, porque os filmes dos Estúdios Disney vinham para Portugal dobrados em brasileiro, durante anos acreditei que o Walt Disney era mesmo brasileiro! A alegria que tive quando uma minha tia me ofereceu uma nota de cruzeiro! Senti-me plenamente brasileiro! Viva Álvares Cabral! Passada a adolescência, vieram as telenovelas - que me entusiasmaram por pouco tempo! - e, pouco depois, os romances do Jorge Amado, que ainda hoje amo! Gostava de, antes de morrer, conhecer a Bahia!


Falando de novo das revistinhas Disney, lembroi-me de aí ter descoberto as histórias de Carl Barks, que tanto me empolgavam, metiam medo ou me faziam dobrar de riso! Aquilo sim, era um mestre! Brasileiro, brasileiro mesmo do Brasil, descobri nos anos setenta as bandas desenhadas do Zé Carioca da autoria de Canini, desopilantes e expressivamente ilustradas! Se nos lembramos de Obélix ao ler "Estes romanos são loucos!", ou do Capitão Haddock com o seu célebre "Mil milhões de mil macacos!", de Renato Canini e do seu Zé Carioca fica a célebre "Fui para Moji-das-Corujas"!


Tenho uma personagem, a bruxinha Morgana, de que há uns anos saiu um livro, e em breve sairão os seguintes! Pois pouco tempo depois do seu lançamento, pesquisei no google "José Abrantes" e "Morgana", para tentar perceber o acolhimento que a personagem teria merecido, quando tive, entre outras respostas, que havia aí no Brasil, uma Morgana... de apelido Abrantes!


Poucos dias antes de inicar este blogue, morreu Jacques Martin, com 88 anos. Foi um prolífico autor de banda desenhada. A sua principal personagem foi Alix, o galo-romano que viveu inúmeras aventuras durante o período da guerra civil, em Roma, que opunha César a Pompeu; Mais de 20 livros deste herói clássico foram por ele escritas e desenhadas, alguns dos quais - Yorix le Grand e Le Dieu Sauvage - são, para mim, de leitura incontronável e obrigatória para quem aprecie uma boa banda desenhada de aventuras! A dada altura na sua carreira ingressou nos Estúdios Hergé, sem enorme entusiasmo mas submetendo-se à grande insistência do "pai" de Tintin. Para lá deu forte contributo, no auxílio na escrita de alguns guiões e desenho do guarda-roupa de alguns personagens, assim como na pesquisa histórica que muitos locais e objectos utilizados para a série.

Era muito crítico - para não dizer mais! - sobre Hergé, tanto na sua postura histórica, artística como política, evidenciando, após a morte deste último, uma verve destrutiva a seu respeito que nunca lhe ficou bem no currículo! Em certas entrevistas, pouco lhe faltava para sugerir que Tintin era sua criação, e não de Hergé!

Todavia, a Jacques Martim se deve, práticamente, todo o desenho de La Vallé des Cobras, episódio de Jo, Zette et Jocko, assim como a versão actualmente divulgada de Les Cigares du Pharaon, de Tintin.


Acabou, com o tempo, por se tornar mais um guionista que um desenhador: primeiro, por ser tão prolixo na escrita de histórias - mais do que as que podia desenhar! - sendo sua especialidade divulgar, nas entrevistas que dava, vários títulos e sinopses de obras ainda no prelo!


Pessoalmente, tive a sorte de, aos meus 16 anos, o meu tio Duarte me ter oferecido a até então colecção completa dos livros de Alix e de, poucos anos mais tarde, ter comprado em segunda mão - e num estado longe de estar famosa! - a primeira edição de Alix l'Intrépide, o primeiro ovlume da colecção!


pelos meus 20 anos, num período em que estava entusiasmado em contactar com autores estrangeiros, tive a sorte de receber, do autor, um desenhinho - que neste poste reproduzo -e uns anitos mais tarde, aquando da sua primeira visita a Portugal, o autor desenhou Arbacés na famosa primeira edição - que ele me elogiou a pose! - o que, sem dúvida, a valoriza!

Maus duas vezes voltou Jacques Martin a Portugal, há menos de 10 anos, evidenciando já os seus graves problemas de visão, sempre acompanhado de jovens desenhadores que o acolitavam - mal! - no desenho de alguns seus álbuns. Ainda mantinha aceso o seu debate eivado de críticas a autores da sua geração e mantinha-se um adepto defensor de ser como que a "alma" de Tintim, o que, condescendentemente, as pessoas que o ouviam iam aceitando!

Na sua última visita a Portugal, no Festival da Amadora em 2003, o desenhador Luís Diferr, seu desde há muito admirador contactou-o, tendo recebido dele uma encomenda, de fazer um livro passado no período de D. José. Meticuloso como Diferr é, o livro ainda não se encontra terminado.
Bom dia, boa noite ou boa tarde! Começo este blogue - a ver se o mantenho, se não me esqueço da password!!! - com o fim de divulgar trabalhos meus, reflectir sobre passos e opções que dou, assim como estou atento ao que por aí se desenvolve e que merece o meu parecer... Além de desejar opinar sobre assuntos sobre os quais me debruço ou debrucei... São todos convidados a conhecer melhor os meus amores... E desamores!