Arzach é um verdadeiro caso de um livro-culto, aliás como acabaram por ser outros, do mesmo autor: Moebius, pseudónimo (heterónimo?) de Jean Giraud. Na verdade, Giraud já tinha uma extensa e gloriosa carreira assinando "Gir", sobretudo com a fabulosa série "Blueberry", com histórias de Jean-Michel Charlier. De episódio a episódio o desenhador aprimorava o seu estilo, inovava, experimentava, progredia num prodígio gráfico e visual, coisa possível de ser avaliada por qualquer leitor mais ou menos atento. Rápidamente foi possível constatar que era um génio em crescendo, um virtuoso atento às técnicas da sua arte, técnicas essas que ele mesmo muitas vezes inovou em conceitos e grafismos verdadeiramente revolucionários! Curioso e constatar actualmente, que esse autor já septuagenário ainda não se cansou de nos surpreender, enchendo-nos os olhos com desenhos e cores de uma beleza, cor e elegância absolutamente sem igual! Como dizia uma vez Giardino, outro artista italiano de grande qualidade: "Nós (seus colegas), temos um talento, maior ou menor. Mas ele é diferente, é um extraterrestre!". Embora este depoimento revele mais entusiasmo que rigor artístico, subscreve o que muitos apreciadores sentem ao ter nas mãos os livros de Gir/Moebius!
Quando assina "Moebius", o autor liberta-se da carga documental e avança sobretudo com a pura intuição e instinto narrativo/visual, aparentando pouca ou nenhuma reflecção! Naturalmente, isso é apenas aparência, visto não haver artista algum, sobretudo se for bom, o que é o caso! que não faça apurada e permanente reflexão sobre o seu trabalho, mesmo que o faça de um modo inconsciente... Outra característica de Moebius é a opção de centrar os seus temas num ambiente de Ficção Científica, o que faz quase sem excepção. Assim pode dar largas à sua imaginação, inventando mundos, quer civilizados ou não, guarda-roupas para personagens, criaturas, animais, mutantes ou paisagens visualmente fabulosas.
Possuo duas edições de Arzach: a primeira, de 1978, e uma mais recente e mais "completa", de 2000.
A primeira, mais sucinta e incluindo "apenas" os episódios ARZACH, HARZACK, ARZAK e HARZACK, prima pela total ausência de texto, seja narrativo, onomatopaico ou outro, cum uma tímida excepção num pequeno balão de um figurante na última página. O segundo livro acrescenta, além de um útil prefácio do autor, a história "La Déviation" que, méritos à parte, nada tem a ver com o conteúdo do livro, além de uma BD também do ciclo Harzach que o autor tinha deixado incompleta - e que terminou para a presente edição, presume-se - embora não valorizando em nada o trabalho no seu geral e, finalmente, uma nova história, de novo intitulada "Arzach", onde os textos reinam profusamente, conferindo-lhe um ar muito apócrifo!
Prefiro, por todas as razões, a primeira edição! mais sucinta, "completa", "fechada". O meu exemplar tem o autógrafo "sucinto" do autor.
José
ResponderEliminarA propósito deste teu excelente artigo centrado em Moebius e na sua notável obra ARZACH, constou-me, através de fonte bem informada, que estará no prelo uma sequela, sob o título PROZACH, com o qual se completará o ciclo, composto até agora, pela tetralogia ARZACH, HARZACK, ARZAK e HARZACK, e que o autor será um português... O mais estranho é que essa fonte (gaulesa, isso posso dizer) mencionou um nome cheio de erres: Abrrrantes| Obviamente, trata-se do teu pseudónimo, mais uma afinidade com o autor que também se apresenta por um pseudónimo, o de "Moebius".
Será possível, ou não passará de mais uma especulação em que é fértil a 9ª Arte?
Abraço.
GL
pois é, amigo Lino - ou devo chamar-te GL? - correm rumores sobre esse pastiche vilão! Ignoro quem foi o tolo que ousou fazer sombra aos calcanhares do excelso mestre que Moebius (ainda) é, mas ainda lhe trocam as voltas, ou as páginas!
ResponderEliminarUm abraço amigo!
José Abrantes
Falando a sério: Moebius ainda é, será sempre um Mestre. Um artista que atinge essa bitola, aí permanece para sempre.
ResponderEliminarAliás, defendo a seguinte teoria: só se pode considerar Mestre quem, tal como Moebius, cria discípulos.
Agora a brincar: discípulos e "pasticheiros", um deles, o tal Abrrrantèss, imitou-lhe descaradamente o estilo. Mas estou convicto de que será perdoado, porque conseguiu superar o Mestre em humor.
Em Junho, o "psstiche" estará num fanzine perto de si, caso seja um dos participantes da Tertúlia BD de Lisboa, local onde será dado à estampa a notável clonagem artística!
GL
Errata: onde está "psstiche", deveria estar "pastiche"
ResponderEliminarAmigo Geraldes Lino, fico contente pela qualidade que garantes esse pastiche possuir! Suspeito que conheço - de jinjeira! - esse tal "Abrrrantèss", sei quem ele é, e ele sabe quem eu sou, como diria o Sousa Tavares! O Moebius não é ninguém com quem se brinque, com maior ou menor ligeireza, e espero pela Tertúlia de Junho para confirmar o que dizes dessa história!
ResponderEliminarUm abraço amigo!