sábado, 17 de abril de 2010

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO DOIS

Como muitos sabem, tive a "sorte" de, há anos, ter tido uma editora. Foi uma experiência intensa, que deixou boas e más recordações, e muitas conclusões! Na altura, só a Méribérica imperava, com uma repulsa compulsiva em aceitar no seu catálogo autores portugueses. A minha editora, a BaleiAzul, tentou inverter a situação. Sem grande sucesso. Mas na sua senda, outras editoras tentaram a sua sorte, umas com maior triunfo, outras com menor. Mesmo assim, por uma razão ou outra, tiveram os seus altos e acabaram por ter os seus baixos. Inexorávelmente.
Um dos principais "inimigos" (retiremos as aspas, já agora!) de uma esditora é a distribuição! na altura, há pouco mais de 10 anos, exigiam mais de metade do preço do livro, e pelo que me tem sido contado, hoje pedem ainda mais! Com essa parcela canibal, justificam as possiveis campanhas com descontos que os livros podem ter em livrarias, feiras de livro, etc! Esquecem-se, de qualquer maneira, de dizer que muitas dessas campanhas não abrangem TODOS os livros em exibição e venda, ganhando assim mais do que deviam. Tanto as livrarias como as distribuidoras.
Fazendo um parêntesis para abordar as livrarias, são geralmente geridas por incompetentes que poico mais fazem além de pôr os livros em escaparates e alguns nas montras! Não há dinâmica, ideias, estratégias! É mais tipo aranha que, depois de tecer a sua teia, nada mais faz alèm de esperar que a incauta borboleta ou mosca lá se prenda! Rara é a livraria que não soma dívidas, recusando-se a pagar atempadamente aos seus fornecedores! Uma "crise" bem portuguesa! Cada vez mais, os vendedores são impreparados e incultos, não sabem o teor de um livro, nem sugerir um título a um eventual cliente. Para saber alguma coisa, dependem exclusivamente do computador da loja. Longe vão os tempos em que, indo alguém a uma livraria, o vendedor, amável, sabia de cor quase todos os titulos à venda e sabia, por exemplo, se um cliente pretendia o "Singularidades de uma Rapariga Loura", que não era um romance mas um conto, em que livro se podia encontrar e quem era o seu autor! Fecho o parêntesis. Foi curto, mas não tenho muito mais a dizer!
Regressando às distribuidoras, há que reconhecer que, quando honestas, têm de dar a cara pelas dívidas de que as livrarias são responsáveis! mesmo assim, na experiência da BaleiAzul, poucos foram os meses em que as contas eram saldadas dentro do praso estipulado no contrato! Outra razão de queixa passava, de novo, pela insensibilidade - ou ignorância - do material a gerir! lembro-me, por exemplo, de uma organização que pediu à editora uma feira de livros infantis. Não tendo grande coisa dessa matéria no nosso magro catálogo, passámos o contacto para a nossa distribuidora, que encheu o espaço amplamente, com alguns livros infantis, mas com muito livro que nada tinha a ver com crianças, desde policiais, estudos sociolõgicos sobre homossexualidade feminina (!) entre outras avantesmas!
Contam-me que actualmente o sistema está em crise. Como se nunca tivesse sido de outra maneira! E que as distribuidoras sucedem-se, continuam a dever dinheiro e que o sistema, gerido por livrarias e distribuidoras, está preso no lodaçal!
Deus me livre cair de novo nas suas mãos!

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