sexta-feira, 16 de abril de 2010

A CAMINHO DA MARGINALIDADE, CAPÍTULO UM

Hummm! Como começar este poste? E como o desenvolver, sem exibir demasiada acidez? Pois bem, é mesmo só avançar, e ver no que dá!


Sou um autor com gostos variados, pouco fixos ou fiéis nesta ou naquela escola! Há artistas, estilos e géneros narrativos, na banda desenhada, tão diferentes entre eles e, ao mesmo tempo, tão atraentes! Tenho recordações de ser muito pequenino e já estar rodeado de álbuns, fossem do Tintin, do Strapontan ou do Humpápá, ou de muitas revistas, a maioria delas comic-books traduzidas para brasileiro, num papel mau, impressão tão má que por vezes imagem ou texto não apareciam, dando um toque algo fantasmagórico a certas histórias! Lembro-me bem de uma em que o Bolinha... Bem! Retomo o assunto!

Entre revistas, o género preferido norte-americano (além das tiras diárias!) e o álbum, bem mais franco-belga, acabo por dar preferência ao segundo: permite uma maior durabilidade do objecto, e quase sempre é mais bonito! Que bom é ter um álbum de aventuras nas mãos, poder lê-lo as vezes que entender e, caso não o trate à bruta, poder devolvê-lo à estante, em tão bom estado como de lá saiu?

Por isso mesmo, quando comecei a minha profissão, não descansei enquanto não tive um álbum editado, o que aconteceu em 1990 com Contos do Nordeste Transmontano, com texto de Jorge Magalhães! Enfim, o dito livro tem, a meu ver, mais defeitos do que qualidades, mas poderia ir corrigindo os primeiros à medida que fosse fazendo novos livros! E, sempre que era possível, todas as coisas que ia fazendo para a imprensa - revistas, jornais! - tentava planeá-las de modo a poderem depois, mais tarde, inseri-las num álbum...

Nos inícios dos anos 90, graças a um espírito algo ingénuo e generoso das Edições ASA, publiquei nada menos que sete álbuns! Bem bom! Já começara a escrever - e desenhar - os seguintes, quando a má notícia explodiu, qual granada, nas mãos de muitos ansiosos autores que, tal como eu, dependiam dessa editora: por má gestão do seu stoque, deficiente e preguiçosa distribuição, e total ignorãncia do produto que geriam - lembro-me que me aceitavam projectos entusiásticamente, sem sequer indagarem o seu conteúdo! - a direcção da editora, quase arruinada, cancelava o projecto editorial! Passo sobre os detalhes criminosos com que nos desencorajavam a continuar! Tudo isso, lembro-me bem, foi "revelado" numa reunião preparatória para um Festival de BD da Amadora, onde o tema forte foi esse, ao contrário do que se previa, naturalmente: discutir o evento seguinte! No meio de muito palavreado, o meu amigo João Paiva Boléo, algo irritado com a aflição dos autores presentes, defendia que já que não haveria possibilidades de fazer mais álbuns, que devíamos passar a fazer edições de autor! Esse ponto de vista foi desprezado pelos presentes com exclamações impacientes! De facto, não há "casamento" possível entre uma BD dita "de álbum" e uma edição de autor! São cisas distintas! Tentem imaginar, por exemplo, A Marca Amarela em edição de fanzine, ou obras de Crumb devidamente coloridas, polidas e enfiadas num álbum à francesa! Não dá!


* * *


Tudo isto acaba por vir ao caso com a minha actual situação: não tenho editora capaz de editar os meus álbuns, há já uns bons anos! Já me cansei mesmo de o propor, de bater à porta das possíveis editoras! Eu desenho e conto histórias por prazer, e não por encomenda; o que faz que, actualmente, tenha cerca de uns cinco inéditos, todos completos ou práticamente completos, para álbuns de banda desenhada! E no que toca a livros ilustrados, em pouco tempo reuniria uns 10 livros, ou talvez mais! E projectos "em carteira", seriam mais outros dez! Muito complicado! Farto da engonhice editorial actual, e da incompetência que alguns editores vão mostrando, anunciei, no Verão do ano passado, que suspendia a minha carreira! Durante mais de dois mezes não fiz um traço que fosse, e não tinha mesmo vontade de o fazer! Com o passar do tempo, lá retomei o pincel, fui fazendo umas telas, umas aguarelas, algumas das quais tive a sorte de ir conseguindo vender! e actualmente, depois de umas promessas - falsas - por parte de uma editora em editar coisas minhas, retomei o prazer em fazer coisas! Estou mesmo a iniciar o quarto álbum de Homodonte (só os dois primeiros estão editados, o segundo dos quais está redondamente esgotado!) e, como costume, trabalho por gosto, não há no horizonte qualquer proposta de me editarem esse ou outro trabalho!

Há uns meses atrás, foi-me proposto - mas não teve seguimento! - a participação numa exposição de arte erótica, que terá lugar em breve no Porto! Pensei, à cautela, que teria uns oito ou dez desenhitos que lá poderiam figurar... Pois bem, fui a uma das caixas de arquivo onde guardo os meus desenhos e. ó espanto! Tinha, no mínimo, entre cinquenta ou oitenta originais que poderiam figurar na dita exposição! É cá uma coisa, desenhar por gosto e, por não ter encomendas, ir guardando, guardando, até me esquecer que fiz isto ou aquilo! E tenho dezenas de pastas com desenhos completos, uns a cores, outros não, com muitas e diversas temáticas! É claro que, inicialmente, a ideia que me veio foi fazer um portfólio... Mas com que meios, tiragem, e para vender aonde!?


(Continua)

1 comentário:

  1. O que é que há a dizer depois de ler o teu texto, que reflecte muito bem os graves problemas deste país, ao nível da publicação. Penso que os problemas com que te debates, são comuns a quase todos nós. Porém, quero acreditar, se calhar algo ingenuamente, que melhores dias hão-de vir. E fica descansado que, apesar das nuvens negras que persistem em pairar sobre as nossas cabeças, o teu trabalho é visto e reconhecido. Provavelmente não o será com a dimensão que merecia, mas sei que é. Um abraço.

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